Mudanças no mercado de trabalho: O que acontece com a concorrência e com o mercado de trabalho em períodos de contração da atividade econômica?
O Brasil viveu a maior recessão de sua história no período 2014/16, quando a renda per capita caiu quase 10%. Passado este período, a economia brasileira está voltando a crescer e uma questão importante a discutir nesse cenário é o impacto de um período muito longo de crise sobre o mercado de trabalho. O que acontece com a concorrência nos vários mercados da economia em períodos de contração da atividade econômica?
Há vários argumentos para justificar que a concorrência no mercado tende a aumentar nesta fase e o Brasil não é exceção. Nesse sentido, cabe destacar:
a) A redução do mercado tende a acirrar a disputa entre os participantes por um “bolo menor”;
b) A visão de que empresas podem sair de mercados em contração (o que diminuiria a concorrência) para mercados em expansão enfrenta dois importantes contra-argumentos: em primeiro lugar, na prática, os fatores de produção não são tão flexíveis.
Eventuais fechamentos de plantas, fábricas ou unidades de negócio ocorrem por ajustes de custo e portfólio, para aumentar a capacidade da empresa concorrer no novo cenário econômico. Independentemente do grau de desenvolvimento do país, nenhum deles dispõe de todos os recursos necessários para satisfazer todas as necessidades.
Isso significa dizer que raramente é possível a uma empresa sair do mercado onde atua (e onde , possivelmente é mais eficiente) para outro; em segundo, é importante observar que em períodos de recessão prolongada como a vivida pelo País, dificilmente será possível encontrar, internamente, outros mercados em expansão.
c) Com a redução da produção, o custo fixo médio das empresas tende a subir; uma estratégia para reduzir o impacto desse custo, em um mercado em queda, é tomar medidas para aumentar a participação no mercado – “market share” – aumentando ainda mais a concorrência.
d) No Brasil, tem-se observado a presença crescente dos mais variados produtos importados – automóveis, eletroeletrônicos, produtos alimentícios, etc… A conseqüência desse quadro também é o aumento da concorrência.
e) Mesmo em mercados onde não é viável a importação, como é o caso de lavanderias, lanchonetes e restaurantes, o que se observa é a crescente presença de novos entrantes, principalmente multinacionais.
f) É normal que os períodos de recessão sejam acompanhados por juros nominais maiores, elevando o custo de carregamento de estoques.
g) Políticas de redução de estoques implicam em ampliação da oferta de produtos. Em um mercado recessivo – onde a demanda está reduzida – isso também resulta no aumento da concorrência.
O que acontece com o mercado de trabalho
em períodos de contração da atividade econômica?
O mercado de trabalho para executivos também é impactado pela recessão, de forma semelhante ao que ocorre no mercado de bens e serviços. O “encolhimento” do mercado, a redução da produção e o aumento da concorrência levam as empresas a adotar medidas de redução e flexibilização de custos.
Há fusão de departamentos e substituição de executivos de maior remuneração (que passam a ficar “caros” no novo cenário), aumentando a oferta desses profissionais e conseqüentemente acirrando a concorrência por novos cargos que eventualmente sejam demandados.
Além disso, há uma tendência de alteração nas relações de trabalho (que vai se acentuar com a nova legislação trabalhista) com maior flexibilização dos contratos de trabalho. A tendência é de crescimento da parcela variável na remuneração total dos profissionais – o que significa dizer que o executivo passará cada vez mais a fazer parte do risco do negócio – e nas contratações como pessoa jurídica (PJ).
Sobre o autor:
Antonio Evaristo Teixeira Lanzana é Consultor Financeiro e de Negócios na Lens & Minarelli, ex-Consultor do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento. É professor do Departamento de Economia da USP, Fundação Dom Cabral, coordenador e professor dos Programas de MBA da FIPE/USP.
É presidente do Conselho de Estudos da Conjuntura da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio), membro do Comitê de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (Acesp) e foi economista-chefe, assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).