Consultor financeiro da Lens & Minarelli, Antonio Lanzana orienta sobre como planejar e manter reserva financeira, tão útil em diferentes etapas da vida

Reserva Financeira adequada é importante aliada durante a Transição de Carreira

Após um 2016 incerto e cheio de mudanças, empresas e profissionais iniciam 2017 com seus planos renovados, metas alteradas e desafios atualizados. Para alguns dos profissionais que atuam no mercado brasileiro o momento também é de transição de carreira. Iniciada por imposição do cenário, por uma demissão inesperada, por necessidade ou por desejo de explorar uma nova atuação profissional. Nesse momento, é primordial avaliar a condição da reserva financeira, verificando se ela é suficiente para dar tranquilidade e para garantir que se obtenha o melhor aproveitamento do processo.

O doutor em Economia pela USP e consultor financeiro e de negócios da Lens & Minarelli, Antonio Lanzana, assessora executivos em relação às finanças pessoais, experiência pela qual também evidencia que parte dos profissionais abandona esta questão alegando falta de tempo.

Esquecem que a gestão das finanças pessoais e da reserva financeira é indelegável e que a própria pessoa precisa ter o controle do montante disponível em conta corrente, em fundos bancários e em outros tipos de investimento. E ainda acompanhar as sugestões de bancos ou corretoras sobre as oportunidades e as variações da economia. Entrevistado pelo Blog Lens & Minarelli, Lanzana ofereceu as seguintes orientações, úteis para quem está iniciando ou prevê iniciar em breve a sua transição de carreira:

1) Necessidade de Liquidez

Durante a transição de carreira, liquidez é mais importante que rendimento pelo fato de não se saber, de imediato, quando sua renda mensal voltará aos patamares em que se estava acostumado. Algumas pessoas pensam em aproveitar a disponibilidade de caixa para antecipar pagamentos e aproveitar descontos. Contrariando o senso comum, não se recomenda a antecipação de pagamentos, mesmo que o desconto seja maior que os juros recebidos na aplicação financeira.

2) Conhecer as alternativas disponíveis de aplicações financeiras e não financeiras

Os mercados são dinâmicos, refletindo no leque de alternativas de aplicação financeiras e não financeiras. Atualmente há uma clara tendência de “desbancarização” das aplicações financeiras, viabilizada em boa parte pelas garantias oferecidas pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito). Essa questão também será importante para um planejamento financeiro de longo prazo.

3) Controle de Gastos

Muitas pessoas “acham” que gastam menos do que realmente gastam. Vigie suas despesas e, se necessário, corte gastos de itens dispensáveis no momento. O uso do cartão de crédito é outro ponto que deve ser analisado por contribuir com maiores gastos e juros quando não acompanhado com atenção.

4) Para os que buscam empreender

Caso esteja nos seus planos iniciar o próprio negócio, não invista toda sua reserva pessoal para abri-lo. É preciso ter recursos pessoais para atender ocorrências inesperadas, como questões que envolvem a saúde. Já com relação ao negócio, além do investimento, considere as necessidades de capital de giro e possíveis desequilíbrios entre a receita e a despesa, que são comuns no início do empreendimento.

Seu negócio deve se desenvolver a partir de uma avaliação e planejamento financeiro adequados. E antes de captar recursos, você deve pesquisar todas as alternativas de financiamento e programas de governo subsidiados para detectar qual é o mais viável.

O especialista alertou ainda sobre as questões financeiras estruturais da carreira, e que devem ser observadas no longo prazo:

5) Necessidade de se formar reserva financeira

Contratado ou com o próprio negócio em pleno funcionamento, os executivos devem se conscientizar que imprevistos financeiros ocorrem e a renda mensal nem sempre é suficiente. Para estabelecer o valor ideal da reserva financeira é importante considerar, também, o número de dependentes existente. Quanto mais dependentes, maior a chance de imprevistos. Os hábitos de consumo também devem ser constantemente observados e avaliados. Alguns bens prejudicam a liquidez e elevam o custo mensal da família como, por exemplo, imóveis na praia e automóveis.

6) Pós carreira e planejamento de longo prazo

Vida profissional também tem prazo de validade, portanto é fundamental manter empregabilidade construindo e ativando um portfólio que gere rendimentos para complementar aposentadoria e que ajude a manter autonomia financeira na fase de pós carreira. Independente da idade, conheça seu volume de recursos e o quanto necessita para manter seu padrão de vida caso não tenha renda do trabalho.

Como saída, mantenha títulos ou fundos de renda fixa (rendimento de juros), renda variável (dividendos e valorização das ações), imóveis residenciais ou comerciais (rendimento de aluguéis), entre outros. A composição deste portfólio depende das suas características pessoais, ou seja, se tem maior ou menor necessidade de liquidez, menor ou maior aversão a risco. Não é saudável definir seu portfólio baseado em modelos genéricos ou adotando uma “composição adequada para todos”.

7) Conheça as alternativas do mercado financeiro e não financeiro

Este ponto volta aqui para lembrar que se você quer assegurar sua reserva financeira e aumentar rentabilidade das aplicações, é primordial estar por dentro das variações econômicas. Mantenha atenção ao tripé “risco, retorno e liquidez”.

8) Juros reais vs. Juros nominais

Assessorando executivos em transição de carreira, Lanzana percebe que é comum encontrar o que ele define como sendo “ilusão monetária”. É normal que se confunda juros nominais com juros reais (o que se ganha acima da inflação). “Com um juro nominal de 13% ao ano e inflação de 6% (não considerando os impostos), o seu ganho real é de 7%/ano”, explica o especialista.

9) Rendimentos brutos vs. Rendimentos líquidos

Ao apurar os rendimentos, não ignore a questão tributária. Um exemplo é quando se aplica recursos em fundos de renda fixa, onde há IOF para saques inferiores a 30 dias e imposto de renda. Muitas pessoas se esquecem de retirar dos seus ganhos a tributação, já que os bancos induzem a essa interpretação quando divulgam as taxas de rentabilidade de seus fundos, ao publicarem os rendimentos brutos. Mas o que interessa são os rendimentos líquidos, que podem ser calculados a partir das contas de cada um.

Lanzana também destaca que a diferença entre rendimento bruto e líquido pode ser ainda mais expressiva em aplicações como o PGBL, que ao ser resgatado sofre cobrança de IR não apenas sobre os juros, mas também sobre o principal.

Esperamos que essas orientações ajudem no seu planejamento financeiro, necessário não só para cobrir os imprevistos profissionais, mas também para atender às demandas inesperadas, pessoais. Acompanhe sua reserva financeira com frequência e assegure renda e reserva financeira suficientes para o seu cotidiano, de sua família, e para dar tranquilidade e autonomia à sua carreira.

Fonte:

Empregabilidade – Como entrar, permanecer e progredir no mercado de trabalho, 27ª edição, MINARELLI, José Augusto, ano 2010.

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