Blog | Trabalhar por conta própria: da macrovisão ao dilema individual

O trabalho autoempresariado (por conta própria) é alternativa de carreira e não falta de opção

Para inspirar as novas gerações, decidi resgatar um artigo sobre empreendedorismo que escrevemos há dez anos no nosso boletim Vida & Carreira. Você irá perceber que a necessidade de olhar a carreira de uma forma diferente e empreendedora não é nova e que o tema  “Trabalhar por Conta Própria“ sempre fez parte do jeito Lens & Minarelli de gerenciar a transição de carreira.

Quando um profissional se senta à nossa frente para dar início ao processo de transição de carreira, temos diante dos olhos um caso único e, ao mesmo tempo, semelhante a muitos outros. O lado ímpar tem a ver com a particularidade de cada ser, sua história de vida, crenças, valores, convicções, potencialidades, dúvidas e certezas. Já o traço comum diz respeito às regras vigentes hoje no universo dos negócios.

Enfrentar um momento de dor — e a perda do emprego representa um sofrimento de grande vulto — por vezes dificulta enxergar o entorno com nitidez. Passado o baque inicial, percebemos que a realidade já dava seus sinais, mas a atribulação cotidiana não fornecia trégua.

Alguns dos artigos que temos publicado no blog da Lens & Minarelli são um convite à reflexão. Aqui, quero alertar sobre o perigo da visão míope, que só enxerga o presente e negligencia o futuro. É nesse contexto que entra em cena a postura do “vale-tudo”. A busca de resultados a qualquer preço acaba criando um campo fértil para o aniquilamento do clima ético e a deturpação da realidade.

Nosso consultor e economista, Antonio Lanzana, costuma advertir aos nossos assessorados que as transformações na economia continuarão a acontecer, demandando posturas cada vez mais flexíveis por parte de profissionais e das empresas. Quem se fixa em soluções fáceis, de curto prazo ou convencionais, exclui alternativas igualmente ou ainda mais realizadoras. Perde-se, assim, a chance de descobrir que há muita vida além das oportunidades de emprego imediatas, assim como possibilidades mais efetivas de autodesenvolvimento e realização, que as que podem ser encontradas nas conexões de trabalho “de prateleira”. Para aproveitá-las, é preciso estar disposto a sair da zona de conforto, encarar o futuro com um novo espírito e um olhar empreendedor.

O trabalho autoempresariado é alternativa e não falta de opção

Existem pessoas que mesmo diante da necessidade e oportunidade de mudança, insistem em permanecer no mesmo lugar, adotando as soluções de sempre para as suas carreiras. Há também aquelas que aderem a algo novo, com outro nome, sigla ou “com tecnologia embarcada”, uma nova tendência, pelo simples fato de dizerem para elas que estão diante de um novidade ou uma facilidade incrível. Ambas perdem a oportunidade de ampliar a visão e enxergar outras possibilidades para a sua vida e carreira.

Mesmo cientes de que a dinâmica do mercado de trabalho sofreu mudanças profundas nos últimos anos, muitos profissionais não se atentam para a necessidade de formatar um “Plano B“ para sua carreira. Ficam ocupados com as necessidades diárias, também importantes, mas deixam de lado a gestão da sua trajetória profissional.

Na eventualidade de uma demissão, percebem o quanto negligenciaram esse aspecto. Para piorar, alguns adotam uma solução distorcida para o problema e não aceitam outra possibilidade de solucioná-lo, a não ser a de se recolocar rapidamente nos moldes que dispunham, de forma não estratégica e pouco sustentável.

O tempo passa, o desespero chega e, nesse momento, a atividade autoempresariada passa a ser vista como única saída. A decisão de empreender surge não de uma escolha, mas da falta de alternativa, o que pode redundar em ainda mais decepção.

Um novo caminho

A globalização alterou drasticamente a estrutura das empresas, provocando a extinção de muitos postos e alterando as relações de trabalho. Se por um lado a dinâmica atual fez do emprego um bem escasso, de outro criou também novas oportunidades de atuação. O entendimento dessa realidade tem levado muitos executivos a empreender um novo caminho, com boas chances de sucesso quando pautado com objetividade e clareza.

A atividade empreendedora pode, de fato, se constituir em uma interessante alternativa de continuidade da carreira. Há várias frentes a explorar, desde a abertura de um negócio próprio ou a compra de uma franquia até o trabalho como consultor ou mesmo em atividades acadêmicas. Senso de realidade e discernimento são essenciais, bem como o autoconhecimento e o suporte de profissionais especializados, capazes de prestar orientação para fundamentar a tomada de decisão.

No percurso rumo à atividade autoempresariada não existem receitas prontas. Há, no entanto, premissas que favorecem a assertividade, a começar pela realização de um check-up de vida e carreira que permita verificar interesses, inclinações, vocações e talentos para impulsionar a trajetória. Também é essencial proceder a uma leitura abrangente e realista do mercado, fundamentada em um criterioso levantamento de informações. Mais que o preenchimento de um canvas ou elaboração de planos de negócio (business plan) a partir de templates, a lição de casa deve incluir uma autoavaliação sincera para identificar pontos fortes, limitações, potencial, estilo e aspirações.

Negócio próprio

O ciclo de criação de uma empresa envolve identificação de oportunidade, análise dos riscos, conceituação e desenvolvimento de um plano de negócio. Na análise de riscos, o medo de desistir desencadeia em muitos o efeito “avestruz”, ou seja, a recusa de enxergar perigos e ameaças. No entanto, é imprescindível ter consciência dos riscos do negócio, não somente para avaliar a possibilidade de reduzi-los, como também para definir estratégias. O plano de negócios deve ser simples e objetivo, envolvendo descrição do empreendimento, análises qualitativas e quantitativas, detalhamento financeiro, etc.

Franquias e parcerias empresariais

Parceria empresarial que prevê o compartilhamento de riscos e experiências entre as partes, a franquia representa uma alternativa interessante para profissionais de espírito empreendedor e com recursos financeiros, mas que não dispõem de um projeto definido. Apropriação de um know-how já testado e formatação pronta do negócio representam alguns dos aspectos positivos dessa modalidade de empreendedorismo. Como pontos desfavoráveis, destacam-se pagamento de taxa de franquia, restrições na transferência a terceiros, autonomia parcial e risco atrelado ao desempenho do franqueador.

Consultoria e prestação de serviço

Longe de se caracterizar como ocupação passageira, firma-se como uma nova alternativa de carreira profissional. O mercado demanda essa modalidade de atuação, muitas vezes em detrimento do vínculo empregatício. A consultoria vem sendo entendida de maneira mais ampla, envolvendo aspectos de assessoria e “fazedoria”. Trata-se de um mercado em expansão, onde idade não representa um problema. A atividade requer baixo investimento e permite o aproveitamento do capital intelectual adquirido. Se por um lado propicia maior independência e viabiliza bons rendimentos, por outro tem o inconveniente da flutuação da receita. Exposição inadequada, demora na consolidação, não identificação correta do nicho e falta de convicção são alguns dos riscos possíveis.

Atividade acadêmica

A educação vem ganhando importância estratégica e se mostra um mercado em expansão. O crescimento atinge universidades, empresas especializadas, ensino a distância e mesmo as estruturas empresariais envolvidas com iniciativas de universidade corporativa. Todo esse movimento gera impacto também no mercado de trabalho, com oportunidades em três áreas distintas: administração de empresas educacionais, pesquisa acadêmica e atividades docentes. Para quem envereda pelo caminho acadêmico como opção de continuidade de carreira, o estoque de conhecimento acumulado na área executiva pode ser útil, mas não será aplicado integralmente. Vale lembrar que o profissional deixa um ambiente em que tinha know-how para ingressar em um mercado no qual não tem experiência, o que exige investimentos na formação pessoal e profissional, principalmente em termos didáticos.

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Um abraço
José Augusto Minarelli
minarelli@lensminarelli.com.br

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