Compreender o momento profissional auxilia nas escolhas futuras. Para um plano de carreira satisfatório, não pule etapas

Da infância à maturidade da carreira

A carreira é como a vida: também se desenvolve em ciclos, evoluindo da infância à maturidade. Identificar e entender as particularidades de cada etapa permite um melhor ajuste da direção a seguir, possibilitando escolhas mais seguras e objetivas.

A estrutura psíquica e as características do indivíduo são determinantes na trajetória profissional. Outros fatores, porém, influenciam diretamente o desenvolvimento da carreira, como o ambiente e os objetos transicionais – incluindo-se aqui as chefias, que podem impulsionar ou comprometer o ciclo evolutivo.

Conheça as etapas para um plano de carreira de sucesso:

Momento de aprendizado e experimentação, a infância da carreira é pontuada pela necessidade de orientação e feedback. Nesta fase estão os estagiários e os trainees, que necessitam de espaço para errar e se exercitar. Se o ambiente for estimulante e a chefia tiver paciência necessária para ensinar, o jovem profissional encontra espaço para crescer de forma saudável e reconhecer seus diferenciais. Já quando se depara com uma direção superprotetora, que cerceia e inibe a curiosidade e a experiência, o iniciante corre o risco de não se descobrir, nem ser descoberto.

A adolescência profissional se caracteriza como a etapa de questionamento e defesa de ideais. O indivíduo tem energia e está pronto fisicamente, mas ainda não apresenta maturidade emocional suficiente para lidar com as injunções da realidade corporativa. Apesar das dúvidas e incertezas, é o momento em que o jovem profissional desenvolve o espírito crítico e realizador, compreendendo as regras do jogo do poder. Aqui também a qualidade da chefia exerce papel crucial. O saldo é positivo quando a liderança orienta e define limites, sem sufocar o jovem profissional, que o leva a uma atitude de submissão ou o faz se sentir abandonado a própria sorte.

Ao atingir a fase adulta, o indivíduo já viveu suficientes desilusões também na carreira e não tem mais a pretensão de mudar a realidade corporativa. Então surge o desejo de assumir a supervisão da própria equipe e liderar em conformidade com sua identidade pessoal e profissional. Neste caso, a chefia precisa estar próxima para ser acionada quando necessário, mas não tão perto a ponto de impedir a expressão da identidade e das habilidades do jovem adulto.

Na maturidade, você torna-se apto a exercer o comando de negócios e transmitir os conhecimentos acumulados ao longo dos anos. Traz na bagagem capacidade de reflexão, resiliência, criatividade e visão estratégica, alicerces imprescindíveis para a construção e o fortalecimento de seu território. Menos ansioso, transita com facilidade no mundo corporativo gerindo diferentes equipes e projetos, e conquistando relações de parceria. Ganha as condições necessárias para ser o primeiro líder de uma corporação ou para atender a várias empresas de forma independente.

A terceira idade pode coincidir com a aposentadoria, que não precisa nem deve ser sinônimo de estagnação da carreira. Pelo contrário: é o momento de maior liberdade para o profissional que já não precisa provar mais nada para si ou para os outros. Menos pressionado por questões financeiras, se tiver feito a reserva necessária ou reduzido seus custos, e pleno de sabedoria, ele tem vontade de ensinar e perpetuar o conhecimento acumulado. Nesta fase encontra um espaço fértil para alto empresariar seu talento como consultor, empresário ou professor. Alguns realizam o sonho de escrever um livro; outros se vinculam a questões comunitárias e ao Terceiro Setor, colocando a experiência a serviço de causas afinadas com suas crenças e convicções.

O ciclo da carreira nem sempre evolui de forma linear, em sintonia com a idade cronológica e vice-versa. Anacronismos são frequentes e, não raro, cobram um preço alto. Realizar um bom check-up, com a ajuda de profissional qualificado, permite detectar necessidades básicas, defesas e patologias inerentes a cada etapa, além de ajudar a corrigir rotas e definir com maior assertividade os passos seguintes.


Sobre a autora:

Mariá Giuliese Psicóloga, mestre em psicanálise e especialista em psicologia clínica e organizacional pela PUC São Paulo. Dedica estudos e atividades profissionais ao acompanhamento de processos de transição pessoal e profissional. Desde 1978 orienta e aconselha executivos e atua como professora e consultora em cursos e projetos de especialização e pós-graduação em universidades e instituições educacionais como PUC, Mackenzie, FEI, FMU, FAAP, UFMS, Mauá, INSPER e Fundação Dom Cabral.