Saber diferenciar a identidade pessoal da profissional é um dos principais marcos para a descoberta individual do valor do trabalho

O valor do trabalho e a importância de manter uma vida ativa

No artigo anterior, escrevi sobre a transformação do conceito de aposentadoria e sobre como essa mudança permite ao profissional assumir novas posições sociais e no mercado, criando outras realidades e alterando hábitos de vida. Nessa semana, pretendo continuar conduzindo você por esse caminho, para a descoberta de novos valores e significados para o trabalho.

Segundo Anne Marie Guillemard (1972), o lugar que o sujeito ocupa no sistema de produção reflete o lugar que ele ocupa no sistema cultural, e isto terá consequências em outros fatores da sua vida, pois, é nesse quadro que o indivíduo se organiza e se autoestrutura. O papel profissional determina, de certa maneira, suas relações sociais, de poder, de consumo e até mesmo de lazer. Desse ponto de vista, o valor do trabalho está relacionado ao fato dele ser o principal organizador temporal da vida.

É ele que confere status ao indivíduo, reconhecimento e identificação. É, também, por meio do papel profissional que se tem acesso à rede de relacionamentos. Assim, quando nos aposentamos, perdemos nossos relacionamentos, bem como, nosso status conquistado socialmente.

Há, inegavelmente, um afastamento da interação do indivíduo com os membros do sistema social no qual ele vivia anteriormente. Nota-se esse distanciamento, principalmente, nas sociedades industriais do ocidente, incluindo a nossa, onde o papel profissional é supervalorizado e o carácter produtivo do trabalho é realçado.

O valor da pessoa e o seu reconhecimento como ser humano, pode, então, ser medido pelos papéis profissionais que ele representa e pela posição desses papéis no sistema social. Nesse contexto, a mesma sociedade que oferece a oportunidade da aposentadoria, valoriza e enaltece, apenas, aqueles que ainda estão produzindo no mercado de trabalho.

Para aquele que confundiu a identidade pessoal com a identidade profissional, essa transição impulsionará a descoberta de novos sentidos para a vida. Fora do trabalho, do emprego e livre dos vínculos anteriormente estabelecidos.

Nesse novo ciclo, o profissional irá refazer sua identidade, interiorizar novos papéis e identificar novos objetivos para a sua vida.

Tomará consciência de que durante muito tempo da sua vida – da infância à adolescência – preparou-se para representar um papel profissional. Perceberá que durante os estudos – em diferentes períodos da vida – da escola à universidade, à carreira adulta percorrida, a meta era a aprendizagem e o desenvolvimento de uma profissão.

Descobrirá outros meios de personalização para o indivíduo, além do trabalho. Se for capaz de compreender, resignar-se às suas perdas e se adaptar às mudanças, a aposentadoria poderá ser vivida de maneira bem mais ajustada e tranquila.

Como observa Xavier Gaullier (1982), o ciclo de vida compreende atualmente três etapas bem definidas: a preparação para o trabalho, a vida ativa e a aposentadoria. Para esta última etapa, é comum não haver preparação. Preparação, não no sentido financeiro, de reservas que supram as necessidades materiais, mas no sentido de reorganização do indivíduo para o tempo livre e para as novas escolhas de vida.

Há mais de dez anos, interesso-me pelo tema da aposentadoria e um dos trabalhos que realizo atualmente é orientar pessoas nessa fase da vida. A grande maioria, homens e mulheres, em posições executivas, que trabalharam por longo período em uma única empresa.

Meu empenho se concentrou nos profissionais que tinham entre cinquenta e sessenta e cinco anos, pois para essa faixa etária não existiam muitos estudos e pesquisas. A maior parte das pesquisas sobre longevidade sempre estiveram centrados nos idosos de oitenta anos ou mais.

Foi diante desse contexto que aprofundei minha experiência. No aconselhamento de executivos em nível de diretoria, em transição de carreira ou próximos da aposentadoria.

Escolhi alguns casos que podem servir de exemplo para outros profissionais que estejam nesta etapa da vida e carreira. Eles serão descaracterizados para manter a confidencialidade das histórias e publicados aqui no blog até o final do mês.

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Sobre a autora:

Telma Guido é consultora de carreira da Lens & Minarelli. Com experiência em desenvolvimento de lideranças, apoio a executivos C-level nos programas de gestão e transição de suas carreiras, bem como em programas individuais e coletivos de carreira dirigidos aos jovens em fase de escolha profissional. É especialista em elaboração e aplicação de programas de preparação para aposentadoria/pós-carreira,  graduada em Psicologia pela Universidade Paulista (UNIP) e pós-graduada pelo Instituto Sedes Sapientiae em Orientação Vocacional, Profissional e Ocupacional. Certificada em Coaching pelo ICI – Integrated Coaching Institute, é coautora do livro “Consultoria: coleção de Cases de Sucesso” – capítulo: “Os Pilares da Aposentadoria – Trabalho e Segunda Metade da Vida”, da Editora Nelpa/2016.